FRAGMENTOS DE CRIAÇÕES CONSTANTES

Partículas, nódulos, mimos, entranhas, vísceras, momentos, ideias, insights e infinitos pontos de luz que rondam essa mente criativa conturbada por constantes fragmentos de inspirações.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Janela Indiscreta: Quarta vítima: Engravatado


Hoje ócio criativo de um trabalhador notívago.
Sem meu bom fumo, meu bom Marlboro, de recesso pela gripe A e em medicação constante. Encontro minha vítima numa janela de um grande edifício espelhado, típico do Morumbi.
Branco, engravatado, sentado de costas pra mim, com os pés apoiados na mesa, rodando uma caneta nos dedos, todas as outras janelas da fotografia estavam apagadas.

São 21h45min e facilmente dou à ele a verdade.
Não há relatórios a serem entregues, não há planilhas nem prazos. É apenas um email que ele aguarda. Hoje é dia de happyhour, quinta, já que amanhã é b-day do chefe. Mas foi o engravatado e bem apessoado em questão que levou o bolo hoje.

Encontrou o par perfeito ontem no elevador, trocaram deliciosos olhares e hoje se esbarraram no mesmo ônibus. Para ele essa foi a única vantagem que acompanhou o veto dos fretados: “Esbarrar surpreendentemente com pessoas interessantes no transporte público lotado”. Afinal não é sempre que podemos encoxar ou ser encoxados publicamente sem precisarmos nos desculpar por isso.

Mas o bolo veio da rápida preliminar de hoje cedo no bus. Onde entre encoxadas houve a troca de cartões que lhe rendeu uma caixa de emails cheia. Cheia de assuntos sobre amores, apegos e desamores e desapegos; assim como metáforas sexuais para apimentar o desejo, a curiosidade e o dia sem serem diretamente vulgares.
E o sabor do bolo? Tem gosto de email não recebido que deveria conter coordenadas para o encontro como prometido no email anterior.
Meu engravatado clica desesperadamente sobre a mesma tela do seu Outlook. Será que é o ícone “Atualizar”? Coça o cabelo, gira na cadeira, mexe no sexo e continua ansioso.

São 22:17hs e ele continua persistente ali parado, mas agora ele lê atenciosamente algo em seu monitor. Acredito que lê os emails trocados hoje, cheios de bom papo e ladainhas.

Deve ser algo sobre a falta que faz alguém que saiba o que você gosta, que compartilha de sua intimidade. Que conhece sua sobremesa predileta, as falas dos filmes que você mais gosta, os refrões que você sabe de cor. Alguém que acaricie sua coxa enquanto você dirige. Que entrelace os dedos no seu cabelo enquanto você lê algo, vê TV ou não faz nada. Que te beija aleatoriamente na nuca enquanto você cozinha. Que te surpreende com um banho acompanhado, uma massagem quando você mais precisa ou te prepara um jantar que termine com um bom café na cama.
Emails que instigam qualquer carente de plantão.

Tá bom! Confesso! Preciso de um romance! E não me venham com livros!!!

Vou deixar o lindo engravatado esperando seu email e vou comer algo. Chocolate. Libido, claro. Caso saibam de alguma janela precisando de limpeza, de cuidados, bons tratos, avisem.

- Quinta, trinta de Julho de dois mil e nove.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Janela Indiscreta: Terceira vítima: Casa de Vidro.



Hoje resolvi não dar verdades ao que vejo. E sim, debulhar em tristeza, decepção e indignação por situações em que somos postos a teste. Cubos de vidros intermináveis.
A vida nos prega peças indiscretas demais. Saias muito justas. Onde a indignação pelos problemas mundanos é tão absurda que me deixa absorto.

Me deparo com mãos atadas ao querer ajudar uma família. Minha família. Não a de sangue, mas a que a escolhemos.

Me vi do lado de fora de uma casa de escuro vidro blindado, onde minha família estava presa em seu interior e eu apenas podia os ouvir agonizar em pedidos. No máximo podia bater fortemente contra o grosso vidro, machucando-me cada vez mais sem causar uma única fresta para escape.

A repulsa se deu no por quê desse sofrimento.
A tristeza se deu na dor da decepção em ver-me atado.
A agonia se deu junto as lágrimas que embaçavam os vidros de minha visão, de minha lucidez.
O medo se deu por sentir-me inútil ao ver meus amados sofrerem e o máximo que eu tinha eram meus dedos entrelaçados suplicando firmemente à alguma energia ilusória que nos enviasse uma resolução para quebrar o vidro. Quebrar o feitiço.

Pois cobiça e inveja são feitiços, não pecados. São maldições que cegam humanos fracos.

Confesso que ainda não pedi à ninguém uma marreta, pois posso querer acertar o feiticeiro ao invés do vidro. Mas sei que o fraco feiticeiro tem teto de vidro, e uma hora vai chover granizo. A natureza sempre encarrega-se de fazer seus acertos.
Enquanto isso, fico aqui, gritando ao vidro, tentando me fazer ouvidos, apertando meus dedos contra os botões do teclado tentando sangrá-los exteriorizando essa dor.

-Terça, vinte e oito de Julho de dois mil e nove.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Ritmo

Incentiva a movimentação corporal. Gerando pulsos musculares para a criação dos movimentos ritmados.
Ritmo é a parte do dançar mais individual, mesmo sendo a dança executada em grupo. Pois cada corpo sente o pulso diferente do outro. Os pulsos podem ser cadenciados na batida principal, nos acordes do contratempo e/ou em vários outros elementos inseridos na música.
Isso torna o trabalho de investigação coletiva de movimentos para o dançar um pouco mais ''trabalhosa''. Pois os corpos necessitam estar vivenciando as mesmas experiências e mesmas rotinas de ensaios, entre vários outros pontos para dançarem literalmente juntos. Nas mesmas reverberações musculares.
O ritmo interno é discutível até um certo ponto. Ao passas deste, não podemos pedir mais do intérprete. Pois o sentir, é individual e nem sempre explicável. Não com palavras.