FRAGMENTOS DE CRIAÇÕES CONSTANTES

Partículas, nódulos, mimos, entranhas, vísceras, momentos, ideias, insights e infinitos pontos de luz que rondam essa mente criativa conturbada por constantes fragmentos de inspirações.

domingo, 3 de maio de 2009

Janela Indiscreta: Primeira noite. Primeira vítima.

Na primeira olhada ao outro lado da rua, vejo uma grande vítima, siamesas. Abertas, com as luzes acesas, como foi fácil ver no seu interior um rapaz bem apetitoso. Passando de um cômodo pro outro, inquieto, acende um cigarro. Faço o mesmo. Ele mexe num monitor de computador que está virado pra mim, abre um sorriso, continua a fumar, indaga algo sozinho, fala, gesticula, brinca, apaga o cigarro, logo ele some. Ao retornar, ele me aparece vestido em pós-banho. Na vítima da direita ele se olha no espelho, e veste uma camiseta azul claro, é só o que consigo ver, imagino que esteja de jeans. Ele volta pro cômodo da vítima da esquerda, mexe no computador, e o desliga. Fecha o vidro da vítima com um sorriso no rosto, ainda parado nela ele ajeita o cabelo, aparentemente pelo reflexo. Apaga a luz, e volta para a vítima que restou.

A Rua Augusta é sempre muito movimentada, trinta e duas horas por dia, como o seu banco. Nisso ouve-se sirenes, conversas, buzinas. Já passam das nove da noite, o asfalto molhado reflete as luzes dos bares, dos carros, das pessoas, e me mostra as vezes o que as pessoas realmente estão afim naquele momento.
Como uma moça que me passou rápidamente atravessando a rua e entrando numa porta entre alguns estabelecimentos, achei curioso, mas quando vejo outra vítima acima se acendendo, enxergo que tudo foi um sub-texto da moça pensando em que ela perdeu o começo da novela.

Logo me reaparece o rapaz das vítimas siamesas, na calçada do prédio, esperando algo. Acertei no jeans. Me pergunto o que será que foi combinado pela internet. Ali na calçada dele? Ou ele vai pegar um táxi? Amigos? Família? Estômago vazio? Ou apenas saciar um dos seus prazeres? Exibir a algum indivíduo suas vontades? Compartilha-las? Ou saciar as do outro? Bom, não sei ao certo, vou acender mais um cigarro, e deixar a lei de Murphy agir sozinha. Temos oito minutos conforme a regra para que seja um ônibus, bom vou dar ao rapaz uns dez. Já que sempre conversaremos sob a Lei de Murphy, a chamarei mais intimamente: Lady Murphy.
Antes de dar meu terceiro trago, eis que encosta um carro, preto com vidros claros, abertos, ao entrar, avisto que é um outro rapaz que está no volante, com a luz acesa dentro do veículo ainda vejo que se cumprimentam, um beijo quente acontece enquanto as luzes se apagam no veículo. Logo eles saem, entendo que é um casal. Mas será um -casal de longa data? Ou um casal que aconteceu ali no computador? Um “fast-casal”?

Aqui em São Paulo, temos tudo delivery, tudo a pronta entrega, tudo online, tudo expresso. Felizmente ou infelizmente, até uma boa dose de prazer você consegue sem ter de pagar nada por isso, apenas achando um parceiro que preencha seu perfil. E em São Paulo, isso é fácil, pois a diversidade de idéias, ideais, sensos e vontades é muito grande. Sempre tendo a solução para o que você precisa, na hora em que você precisa. Algumas coisas se banalizam assim, se perdem assim. Ou não! Tem gente que acha exatamente o que precisa e se dá bem. Achando o “ideal match” para aquele momento.

Como eu necessitava ocupar minha cabeça, estou ouvindo minha boa Madonna, com meu bom cigarro, saciando meu desejo de escrever algo, e eu só precisei olhar pela janela e encontrar o que precisava. Assim. Expresso. Quase delivery.

- Quinta, dez de Abril, de dois mil e oito.

Sem comentários:

Enviar um comentário